Como já foi mencionado, a adivinhação rúnica tem afinidades com outros métodos de predição que repousam na alocação ou seleção fortuita de símbolos para estimular a intuição. Destarte, a adivinhação rúnica tem similaridades com o Tarô e com o I Ching, por exemplo.
O Tarô foi absolutamente bem-sucedido combinado ao alfabeto hebraico, e juntos apresentam imagens visuais, números e palavras-chave por meio dos quais um indivíduo pode buscar o autoconhecimento. O I Ching apresenta a imagem de uma estrutura social altamente organizada dentro de cujos limites um homem define a si próprio, meditando nos pronunciamentos oraculares escolhidos pelo jogo de moedas ou bastões de milefólio. Já as runas produzem imagens, palavras-chave, uma quantidade controlada de significação numérica e uma organização social particular por meio da qual o indivíduo define a si mesmo. De fato, as runas contêm em si as melhores características daqueles dois sistemas e ainda a vantagem adicional de que “o cosmos rúnico” que apresenta está mais próximo da nossa experiência do que a estrutura social da antiga China, presente no I Ching, ou a combinação do hebraico, da cabala, de preocupações medievais e pré-rafaelitas evidentes em vários baralhos de Tarô disponíveis. Não que qualquer desses sistemas seja inválido, mas as runas oferecem uma abordagem clara em relação aos problemas da individualidade e da existência que surgem diretamente da experiência dos povos ocidentais.
O indivíduo que procura “lançar sua sorte”, para poder entrar nos paradoxos da existência apresentados pelos oráculos, se vê numa viagem pelo mar da descoberta. A noção de que nada acontece por irracionalidade ou por acaso, mas tem significado, é reforçada toda vez que vemos um padrão cognoscível a nossos olhos. Desde tempos remotos, as pessoas veem figuras humanas em pedras, formas humanoides em árvores, aspectos de animais nas nuvens, e outros desenhos aparentemente não casuais, interpretados como provas de ação criativa e comunicativa dos deuses. Para a pessoa com capacidade para examinar e compreender, esses padrões contêm valiosas informações sobre a condição atual do mundo e seu futuro imediato.
Os desenhos que vemos na natureza repetem-se infinitamente. As espirais visíveis em galáxias distantes são idênticas às espirais que o leite produz ao ser misturado ao café, ou quando a água desce pelo ralo da pia. As formações dendríticas de galhos de árvores repetem o aspecto dos deltas dos rios, enquanto algumas formações de nuvens lembram os desenhos de dunas de areia, de flocos de neve ou o colorido das escamas de um peixe. Esses desenhos têm sido reconhecidos desde que os seres humanos tomaram consciência, e a nossa linguagem confirma isso. O “céu encarneirado” lembra rebanhos de carneiros, pedra de rim lembra esse órgão e o firmamento aveludado traz à lembrança a cor negra do veludo. Esses desenhos existem devido às leis físicas que regem o Universo. Se essas leis fossem um pouquinho diferentes, então a matéria física não existiria na forma como a conhecemos e a vida seria impossível. Em virtude disso, nossa própria natureza física encontra-se relacionada diretamente com essas leis do comportamento da matéria e, portanto, os desenhos são manifestações das causas básicas da vida.
No decorrer dos últimos cem anos, os pesquisadores científicos e os matemáticos teóricos têm provado esse grande mistério, produzindo resultados fascinantes. Cientistas trabalhando com os traços criados pelas vibrações sonoras, como Chladni e Jenny, demonstraram que as formas geométricas na natureza e na arte são expressões dos traços inerentes às ondas sonoras. Esses traços representam uma manifestação concreta da crença religiosa primitiva de que “no princípio era o verbo”, a vibração primordial do sânscrito e do rúnico, o Om dos budistas.
Os desenhos de imagens manifestadas nas estruturas refletem a energia motora da ordem natural. Os relacionamentos dinâmicos entre a matéria e a energia naturalmente assumem certas formas que podem ser expressas em fórmulas matemáticas ou desenhos geométricos. As imagens formadas por meio de efeitos físicos são as mesmas, independente do material, e é raro que sejam afetadas pela escala, abrangendo do galáctico ao molecular. Podem mesmo ocorrer em sistemas dinâmicos, como os padrões formados pela concentração de micro-organismos mergulhados em líquidos. Sistemas dinâmicos que se auto organizam podem ser considerados como a força motora básica da evolução física e até mesmo espiritual, uma tendência no sentido de se aproximar tanto quanto possível dos padrões naturais inerentes à ordem do Universo.
O escrutínio dos padrões, processado na adivinhação, com a finalidade de obter informação do mundo natural, não difere muito de qualquer exame realizado de um objeto ou sistema por um especialista. O especialista tem conhecimento profundo do padrão correto desejado, e compara o padrão sob observação com o seu modelo conceitual do correto. Se os dois padrões combinam entre si, então o especialista terá conhecimento exato da condição do objeto examinado. Se não combinam, então as diferenças podem ser determinadas por uma comparação aproximada, realizando-se uma avaliação por meio da experiência. Para um leigo, o profundo conhecimento do especialista em relação ao objeto pode parecer próximo a algo miraculoso. Para as pessoas comuns, nas sociedades pouco instruídas, certas tecnologias e habilidades pouco diferem da magia.
Cada um possui um nível de habilidade intuitiva, apesar da maioria das pessoas suprimi-la. Todas as formas de adivinhação pretendem acordar o nosso psiquismo natural, agir como uma ponte entre o processo racional de pensamento da mente consciente e o modo intuitivo empregado pela mente subconsciente. Eis como o sistema rúnico age: construindo essa ponte.
Cada Runa é detentora de uma série de conceitos. Um objeto, um animal, uma emoção, ou — ocasionalmente — uma divindade. Quase invariavelmente estes conceitos são expressos em símbolos ou figuras, por causa do pensamento subconsciente, que trabalha mais com figuras do que com palavras, como já foi explanado. Qualquer série de conceitos muito juntos é chamada de “corrente associativa” ou “linha simbólica”. Cada figura numa associação se completa com a próxima e a anterior num processo inteiramente lógico — apesar desse processo lógico poder empregar uma metodologia de pensamento lateral, tanto como oposto ou sequencial, pois estes pensamentos são modos de cognição mais congênitos à mente subconsciente.
O uso de uma corrente associativa torna mais fácil o uso da memória e, na verdade, as runas são um sistema mnemônico. Dessa forma, apesar de cada Runa representar uma pluralidade de ideias, não importa o quão diversas, ou mutuamente exclusivas estas ideias possam aparecer à primeira vista, há sempre uma conexão definida entre elas. Uma vez que essa conexão é feita, um grande número de conceitos paralelos pode ser trazido para a mente consciente com facilidade, como se eles estivessem todos presos juntos, como pérolas num colar.